Aspectos internacional e brasileiro da economia para o próximo ano foram detalhados no painel
O que esperar da economia brasileira para 2014? Como o mundo poderá ajudar o Brasil? Qual será o impacto das eleições na economia nacional? Estas e outras questões foram respondidas durante o painel “Cenário econômico e perspectivas para 2014”, promovido pelo Sicredi, no dia 30 de setembro. O encontro contou com a presença de Marcelo Portugal, professor de Economia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e consultor da instituição, Alexandre Barbosa, economista-chefe do Banco Cooperativo Sicredi, e Júlio Cardozo, diretor de Recursos de Terceiros, Economia e Risco do Banco Cooperativo Sicredi.
Marcelo Portugal, PhD em Economia pela Universidade de Warwick (Inglaterra), professor titular da UFRGS e consultor do Sicredi, iniciou o painel traçando um panorama macroeconômico mundial em que apresentou os três principais vetores atuais de crescimento da economia mundial – China, Estados Unidos e Zona do Euro – por onde passa o mais importante fluxo de capital. O especialista lembrou que a crise internacional recente é composta por dois atos, responsáveis por grande turbulência na economia mundial: uma mais aguda, em 2008/2009, que atingiu os Estados Unidos e, por consequência, o mundo todo – “uma crise bancária é a mais grave que pode acontecer porque sem crédito a economia não funciona”, frisou o especialista – e outra mais moderada, entre 2011 e 2013, na zona do Euro – a criação da moeda única, combinada com baixas taxas de juros, fez com que os países como Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália elevassem o seu endividamento.
“Há sinais de que a crise está se dissipando. Em 2014, a economia norte-americana deverá registrar resultado superior ao atual e há previsão que a Europa saia da recessão”, destacou Portugal. No entanto, o economista ressaltou que, embora a economia europeia passe a registrar taxas positivas, esta não retornará ao nível de crescimento pré-crise. Segundo ele, a perspectiva para os próximos anos é de uma nova “normalidade”, com taxas mais moderadas de expansão.
Sobre a China, Marcelo Portugal ressaltou que o país vem apresentando uma contínua desaceleração em seu PIB, ao sair de variações anuais superiores a 12% no período pré-crise para uma expansão de apenas 7,5% no segundo trimestre de 2013. Embora menor, o crescimento, no entanto, ainda pode ser considerado robusto, considerando que o país ocupa, atualmente, o posto de segunda maior economia, atrás somente dos EUA. Por ser grande consumidora de matérias-primas, a economia chinesa contribui para a elevação dos preços de produtos básicos, enquanto diminui o de bens industrializados. “A China é uma grande fábrica mundial, demanda matérias-primas e oferta produtos industrializados para todo mundo. É a principal responsável pela elevação dos preços de commodities e pela queda nos valores de produtos manufaturados. Muito do crescimento brasileiro da última década se deve às exportações aos chineses”, afirmou.
O professor apresentou também algumas medidas que foram tomadas no combate à crise, principalmente nos países desenvolvidos, e as suas consequências. Explicou que a expansão da liquidez, causada pelos Bancos Centrais dos EUA, do Reino Unido, do Japão e, em menor grau, da Zona do Euro, contribuiu para que os países emergentes se acostumassem com um cenário de recursos abundantes e taxas de juros internacionais muito baixas. Assim, a recuperação econômica dessas regiões e a conseguinte retirada dessas medidas de estímulos resultarão em um cenário de taxas de juros maiores nessas economias, fazendo com que saia recursos das economias emergentes em direção aos desenvolvidos, contribuindo, desse modo, para a desvalorização das moedas desses países. “Com os juros nos EUA mais elevados, há valorização do dólar em todo mundo, refletindo em toda a economia mundial”, finalizou.
ECONOMIA BRASILEIRA
Depois de uma visão mundial, o economista-chefe do Banco Cooperativo Sicredi, Alexandre Barbosa, mestre e doutor em Economia pela UFRGS, apresentou o panorama da economia brasileira para o final deste ano e para 2014.
O Brasil teve seu maior ciclo de expansão econômica, desde a década de 1970, entre 2004 até 2010/2011, com características como a forte expansão dos preços das commodities, forte expansão de crédito, queda na taxa de desemprego e expansão do consumo e do setor de serviços. “Agora estamos entrando num novo ciclo, pós-crise, um pouco diferente do anterior. Esperamos um crescimento mais moderado da economia mundial, estabilidade/baixo crescimento nos preços das commodities, depreciação cambial e déficit externo elevado, além de um maior endividamento das famílias, maior dificuldade na expansão do crédito, escassez de mão de obra e taxa de desemprego estável, com tendência de elevação”, ressaltou Barbosa.
Além disso, destacou que a política econômica que deu sustentação ao ciclo de crescimento anterior foi flexibilizada. O Banco Central passou a aceitar níveis inflacionários maiores e a intervir sistematicamente no mercado de câmbio. Adicionalmente, a dívida bruta tem se elevado nos últimos anos. Desse modo, o economista apontou que o “tripé de política econômica” (meta de inflação, superávit primário e câmbio flutuante), responsável pela estabilidade macroeconômica na última década, foi sensivelmente afetado.
Para 2014, o economista prevê que o crescimento do varejo será inferior ao verificado nos últimos anos. Em julho de 2013, este número foi de 5,4%. “A desaceleração do crédito, a menor geração de empregos e o aumento da inflação são determinantes para a desaceleração do consumo das famílias brasileiras ao longo de 2013”, destacou.
Outro fator que influencia a economia nacional e os investimentos do País é a infraestrutura. “As concessões para a iniciativa privada que o Governo Federal está realizando serão fundamentais para a recuperação da economia interna a médio e longo prazo”, destacou Barbosa. Ainda, comentou que a confiança do empresariado que vinha em declínio, com uma forte queda no período das manifestações deste ano, voltou a subir em julho, indicando uma aceleração da atividade a partir do último trimestre do ano.
Setorialmente, o economista-chefe lembrou que a indústria possui entraves maiores do que os demais setores, pois tem dificuldade de repassar o aumento dos custos, especialmente os salariais, para os preços finais. Adicionalmente, a indústria acaba sendo afetada pelos gargalos de infraestrutura. Apesar disso, em função da depreciação cambial, deve crescer 3% em 2014. Já o setor agropecuário voltou a apresentar taxas de crescimento positivas, depois de ter uma forte queda no primeiro trimestre de 2012, em função da grande seca no Rio Grande do Sul. Nos primeiros três meses deste ano, o setor já cresceu 9,4% e no segundo 3,9%. O setor de serviços, que manteve taxas de crescimento mais expressiva nos últimos anos, deverá crescer menos do que a indústria e a agropecuária em 2014. A estimativa da instituição é de 2,2% de crescimento para o setor de serviços. Assim, o PIB do Brasil fechará o ano com crescimento de 2,8% e terá uma desaceleração em 2014, para 2,5%.
De acordo com as projeções do Sicredi, o IPCA deve fechar este ano em 5,6%, em função da “redução de impostos sobre a energia elétrica, subsídio ao transporte urbano, redução de IPI e forte controle no valor dos combustíveis”, e ficar em 6% em 2014. Já para a SELIC, projeta que encerrará 2013 em 10% e chegará a 10,25% no próximo ano, como forma de conter as pressões inflacionárias.
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2013 |
2014 |
IPCA |
5,6% |
6% |
SELIC |
10% |
10,25% |
PIB |
2,8% |
2,5% |
Fonte: Sicredi
MERCADO FINANCEIRO
Ao falar sobre o cenário e as perspectivas do mercado financeiro, o diretor de Recursos de Terceiros, Economia e Risco do Banco Cooperativo Sicredi e mestre em Administração pela Universidade de Michigan (EUA), Júlio Cardozo, destacou que o setor continua muito sensível às políticas adotadas no mercado internacional e pelas medidas econômicas realizadas pelo Governo Federal.
“O dólar está muito volátil e os agentes estão buscando proteção contra a inflação. Estamos passando por um momento com prêmios de risco elevados e tudo isto acaba afetando os juros, o câmbio e a bolsa de valores”, destacou o diretor. As projeções contidas na curva de juros DI para este ano são de, aproximadamente, 10% em 2013 e 11,5% em 2014.
No que se refere à taxa de câmbio, Júlio Cardozo frisou que esta atingiu mais de R$ 2,40/USD no final de agosto, quando o mercado esperava o término do programa de compras de ativos, promovido pelo Banco Central dos EUA. Naquele momento, segundo o diretor, o mercado estava “batendo” muito no Brasil, pois o país possuía a maior dívida externa entre os emergentes, além de possuir um Banco Central que “monopoliza” o mercado à vista de divisas. Nesse sentido, mostrou que a taxa de câmbio no período mostrou uma desvalorização superior aos fundamentos macroeconômicos e à desvalorização de muitos países com características econômicas semelhantes. Para conter esse “excesso” e evitar repercussões inflacionárias indesejáveis, o Banco Central buscou dar liquidez a esse mercado, fazendo leilões de linha e de swap cambial, como forma de tentar suavizar o processo de desvalorização da moeda brasileira. De acordo com a projeção do Sicredi, o dólar deve encerrar este ano em R$ 2,35, subindo para R$ 2,45 no final de 2014. Contribuem para esse movimento, o déficit externo crescente e a normalização das taxas de juros internacionais.
Em relação à Bolsa de Valores, o Brasil está enfrentando o quarto ano de desempenho ruim. Em 2013, mais uma vez, a bolsa apresentou queda de 11% ao ano, enquanto outros índices de preços de ações como S&P500, nos EUA, se valorizou 20% e o DAX, alemão, 14%. Apesar do mau desempenho, ainda não dá para afirmar que a bolsa de valores está barata. O resultado brasileiro reflete algumas questões pontuais, como a queda de 93% das ações da OGX Petróleo, e questões estruturais, como o forte aumento dos custos, decorrente da escassez de mão de obra e ausência de infraestrutura adequada à produção. Júlio Cardozo destacou que o fluxo estrangeiro está positivo em R$ 11 bilhões (janeiro a setembro) e no mercado futuro as posições passaram de vendidas em R$ 5 bilhões para compradas em R$ 1 bilhão.
“O crescimento da China e o aumento no valor das commodities também terão forte impacto no Brasil em 2014, dado que o crescimento doméstico não será dos melhores”, lembrou o diretor de Recursos de Terceiros, Economia e Risco do Banco Cooperativo Sicredi ao final do painel.
Sobre o Sicredi
O Sicredi é uma instituição financeira cooperativa com mais de 2,4 milhões de associados e 1.238 pontos de atendimento, em 10 Estados* do País. Organizado em um sistema com padrão operacional único conta com 106 cooperativas de crédito filiadas, distribuídas em quatro Centrais Regionais – acionistas da Sicredi Participações S.A. – uma Confederação, uma Fundação e um Banco Cooperativo que controla uma Corretora de Seguros, uma Administradora de Cartões e uma Administradora de Consórcios. Mais informações no site sicredi.com.br.
* Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Tocantins, Pará, Rondônia e Goiás.